A fusão de empresas prova que cooperar também é uma forma inteligente de competir no mercado.
Nessa operação de negócios, as empresas deixam de concorrer entre si e se unem para formar uma nova organização – maior e mais poderosa.
É um processo complexo, pois todo o patrimônio é somado, e as pessoas jurídicas deixam de existir individualmente.
Mas os resultados são motivadores: expansão do mercado, aumento da base de clientes, competitividade reforçada e vários outros benefícios.
No Brasil, o volume de fusões e aquisições cresceu 28% em 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgados no G1.
Ao todo, R$ 177,2 bilhões foram movimentados nessas operações.
Ou seja: é muito dinheiro envolvido, e essas grandes movimentações na economia criam oportunidades o tempo todo.
Se você também está pensando nos riscos, este texto vai ajudar a esclarecer os prós e contras da fusão.
Para completar, vou mostrar como conduzir o processo da melhor forma para criar uma organização totalmente integrada.
Então, siga a leitura para decidir se vale a pena investir em uma fusão e os principais fatores que precisam ser levados em consideração nessa hora.
O que é fusão de empresas?
Fusão de empresas é uma operação jurídica que une duas ou mais empresas para dar origem a uma nova organização. Nesse modelo, as pessoas jurídicas deixam de existir individualmente e formam uma única sociedade, que concentra todo o patrimônio, direitos e obrigações das envolvidas.
O termo Fusões e Aquisições (F&A) deriva do inglês Mergers & Acquisitions (M&A), que são meios para consolidação e reposicionamento de negócios.
Como forma de reorganização empresarial, a fusão é regulamentada pelo art. 228 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76)
Há várias razões para fundir empresas, desde o aumento da competitividade até a prevenção de riscos no mercado.
Para realizar o processo, é preciso realizar a avaliação do patrimônio e acordar a fusão em uma assembleia geral de acionistas em cada uma das empresas.
Depois, um novo estatuto é elaborado, as ações são distribuídas e os cargos são reorganizados.
As 6 principais vantagens da fusão de empresas
A fusão de empresas é motivada por uma série de vantagens para as organizações envolvidas.
Basta pensar nas movimentações constantes do mercado, as suas instabilidades e desafios, que podem exigir a união de forças em momentos de crise ou oportunidade.
Veja alguns dos principais benefícios em promover uma fusão.
Diversificação de mercado
Um dos principais motivos para unir duas ou mais empresas é combinar as suas fatias do mercado para criar um negócio mais abrangente.
Por mais que uma empresa invista em vários setores, as limitações operacionais acabam levando à concentração em uma área específica.
Com a fusão, as empresas conseguem somar suas posições já consolidadas em diferentes áreas de atuação.
Como resultado, a nova sociedade alcança vários mercados e públicos diferentes, expandindo as possibilidades de negócios.
Aumento da abrangência de marca
Da mesma maneira que uma fusão amplia os mercados-alvo, também aumenta a abrangência da nova marca.
Ou seja: outros públicos-alvo podem ser atingidos, e a organização ganha fôlego para construir um novo posicionamento no mercado.
Mas, para isso, o branding tem que ser muito bem planejado, para que a nova companhia consiga somar os valores e propósitos das empresas anteriores em uma única representação.
Aumento das receitas
Como consequência da ampliação do mercado e do alcance da marca, a tendência é que a fusão gere um aumento de receitas substancial.
Inclusive, esse é um dos principais motivos para considerar a operação, pois as empresas calculam o quanto poderiam lucrar e crescer juntas, unindo as suas oportunidades comerciais.
Frequentemente, o resultado é bem mais atrativo do que continuar operando de forma isolada.
Redução de custos
Quando duas empresas se unem, há uma profunda reestruturação e análise minuciosa de custos e despesas para compor o novo orçamento.
Nesse processo, as empresas participantes tendem a enxugar a nova estrutura e otimizar os custos ao máximo, traçando novas metas e objetivos em relação às finanças da organização.
Com vários decisores envolvidos, os desperdícios são prontamente eliminados e as falhas corrigidas, dando origem a um negócio mais sólido e eficiente.
Diminuição dos riscos de mercado
A empresa que surge de uma fusão sempre tem mais força diante dos riscos e incertezas do mercado, pois aumenta sua capacidade de adaptação.
Basta pensar que as expertises em gestão de riscos são somadas, criando uma organização muito mais resistente e preparada para enfrentar oscilações e adversidades.
Não à toa, muitas fusões são motivadas por ameaças exteriores.
Melhores condições de atuação
Quando há uma fusão, a organização resultante terá melhores condições de atuação no mercado do que as ex-empresas que a formaram.
Um exemplo básico é a redução do risco de crédito com os bancos, que liberam novos financiamentos ao verificar a estrutura robusta da companhia.
Da mesma forma, todos os recursos de que a organização precisar serão facilitados, graças ao crescimento instantâneo que a fusão de empresas proporciona.
As 4 principais desvantagens da fusão de empresas
Quando se trata de fusão de empresas, vantagens e desvantagens fazem parte da operação.
Veja quais são os principais desafios e como devem ser enfrentados.
Unir processos e tecnologias
Imagine o quão trabalhoso é unificar todos os processos e tecnologias de duas ou mais empresas, considerando a variedade de ferramentas e metodologias que existem na administração.
Não é uma tarefa fácil, e a dificuldade aumenta ainda mais com a resistência dos colaboradores em lidar com mudanças drásticas.
Nesse caso, a nova sociedade deverá decidir quais métodos e tecnologias são mais adequados para operar em um novo patamar.
Transformação de cultura
A cultura da organizacional leva anos e até décadas para ser construída, e não poderá ser transformada de um dia para o outro.
O que ocorre nas fusões é um conflito cultural imediato, por mais que as empresas participantes já tenham uma afinidade de valores, propósitos e objetivos.
Basicamente, a nova organização terá que combinar duas ou mais culturas para criar um novo conjunto de princípios, práticas e comportamentos.
Manter a produtividade
Outro desafio da fusão de empresas é manter a produtividade após a operação, considerando todas as mudanças e impactos nas atividades diárias.
Nesse ponto, o fator humano tem um grande peso, pois a reorganização dos cargos e funções afeta diretamente a motivação e engajamento dos colaboradores.
Manter a força da marca
Apesar do aumento de abrangência, é inevitável que a marca perca força após a fusão.
Isso porque os clientes já se identificam e reconhecem as marcas, e tendem a se distanciar quando as empresas se unem e formam uma nova identidade.
Por isso, a nova organização tem que investir muito em branding para se posicionar rapidamente e comunicar a união aos públicos interessados.
Os tipos de fusão de empresas
Há várias formas de fusão e aquisição, que variam em níveis de complexidade e objetivos.
Veja quais são os principais tipos de fusão de empresas.
Aquisição
A aquisição é uma operação complexa em que uma empresa compra todo (ou quase todo) o controle acionário de outra.
Nesse caso, a empresa comprada desaparece legalmente, e a identidade da compradora prevalece.
A compra costuma ocorrer quando uma empresa percebe que é mais vantajoso assumir as operações de outra organização do que investir em uma expansão por contra própria.
Evidentemente, a compradora é maior e mais poderosa do que a empresa-alvo, e trata a aquisição como parte de sua estratégia de crescimento.
Para que essa operação ocorra tranquilamente, é fundamental que ocorra o processo de Due Diligence, que é basicamente a busca de informações sobre a empresa-alvo para determinar o seu valor e perspectivas de negócio.
Cisão
A cisão é o contrário da fusão: ao invés de duas empresas se unirem, uma única empresa se divide para criar outras.
Nessa operação, a organização destina parte de seus ativos para formar uma nova empresa, podendo continuar suas operações normalmente ou mesmo deixar de existir.
Se a empresa cindida subsistir, as novas empresas que recebem parte de seu patrimônio continuam respondendo pela mesma.
Geralmente, as empresas optam pela cisão quando o cenário exige uma separação de atividades, ou quando há desinteresse dos investidores em continuar no mesmo empreendimento.
Também há casos em que é necessário vender parte do negócio, seja por questões financeiras ou conflitos da gestão.
Incorporação
A incorporação de empresas é uma operação em que uma ou mais organizações são absorvidas por outra.
É muito semelhante à aquisição, mas, nesse caso, os patrimônios e bens da empresa-alvo são incorporados à compradora sem que ocorra nenhuma alteração da pessoa jurídica desta última.
Do mesmo modo, os colaboradores são transferidos à incorporadora sem a necessidade de novos contratos.
Fusão
Por fim, a fusão se diferencia das outras formas de consolidação de empresas por dar origem a um nova empresa, independente daquelas que a formaram.
Também podemos classificar a fusão em cinco categorias diferentes:
- Fusão horizontal: ocorre entre empresas da mesma indústria, para aumentar a participação de mercado
- Fusão vertical: ocorre na união de empresas cujos negócios se complementam, buscando criar uma nova solução em conjunto
- Conglomerado: é a fusão de empresas que possuem atividades totalmente distintas, para aumentar a diversificação dos negócios
- Fusão de extensão de mercado: é a fusão entre duas ou mais empresas que oferecem o mesmo produto ou serviço, mas em mercados diferentes, procurando atingir uma base de clientes maior
- Fusão de extensão de produto: é a união entre duas ou mais empresas cujos produtos estão relacionados e operam no mesmo mercado, com o objetivo de expandir oportunidades.
6 Dicas para fazer uma boa fusão de empresas
Para que tudo corra bem, é fundamental seguir as regras para fusão de empresas e conduzir etapas de de identificação, análise e execução do negócio.
Confira algumas dicas para acertar na operação.
Tenha um bom plano de execução
O primeiro passo para conduzir uma boa fusão é ter um excelente plano de execução, que contemple todos os objetivos e estratégias da operação.
Esse plano deve identificar as ofertas e tecnologias-alvo, considerar fatores críticos de sucesso e definir todas as metas, prazos e responsáveis envolvidos.
Avalie cuidadosamente o valor da empresa
Para calcular quanto vale cada empresa, é preciso conduzir um processo minucioso de valuation, que consiste em uma avaliação quantitativa e sistematizada.
Para isso, você pode estimar o fluxo de caixa, avaliar os riscos e mensurar o potencial de retorno.
Faça acordos claros
A negociação da fusão é um processo delicado, que exige acordos muito claros entre os acionistas.
Por isso, é fundamental tomar decisões conjuntas e definir todas as responsabilidades e papéis em assembleia, com prazos fixados para o cumprimento de cada tarefa.
Assim, você consegue minimizar os imprevistos e vencer resistências durante o processo.
Abra a comunicação
Não é novidade que as reorganizações empresariais causam estresse e insegurança nos colaboradores e stakeholders das empresas participantes.
Afinal, uma das principais perguntas que rondam o processo é: na fusão de empresas, como ficam os funcionários?
Por isso, cabe a você abrir a comunicação e ser o mais transparente possível, mantendo todos informados sobre cada etapa da operação.
Inclusive, é importante promover os benefícios do processo e mostrar que a mudança pode ser muito positiva para funcionários, clientes, investidores e parceiros.
Delegue responsabilidades
A liderança é crucial durante o processo de fusão, desde a tomada de decisão até a coordenação das equipes.
Logo, é fundamental que as responsabilidades sejam atribuídas a profissionais capacitados para conduzir a transição.
Para que a fusão transcorra sem problemas, é interessante dividir a nova estrutura em equipes menores, lideradas por embaixadores da nova cultura que nasce com a operação.
Integre os colaboradores
A melhor forma de garantir um bom início de operação da nova empresa é começar integrando os colaboradores.
Esse processo requer comunicação constante, treinamentos e apoio contínuo às equipes para incentivar a colaboração, destacando os benefícios da fusão e dos novos procedimentos.
Os colaboradores devem encarar a mudança como uma oportunidade para crescer profissionalmente e ter mais caminhos para seguir na carreira, e não como uma ameaça à sua estabilidade.
Exemplos de empresas brasileiras que passaram pelo processo de fusão
Não faltam exemplos de empresas brasileiras que se uniram para superar novos desafios no mercado.
Confira algumas das principais fusões do país.
Itaú e Unibanco
Uma das fusões brasileiras mais famosas foi a dos bancos Itaú e Unibanco, realizada em 2008, que deu origem ao Itaú Unibanco.
A operação criou o maior banco privado do país e um dos 20 maiores do mundo, que escolheu adotar a marca Itaú para dar continuidade às operações.
Na época, os grandes bancos estrangeiros davam sinais de que estavam dispostos a comprar os brasileiros, e isso motivou os dois bancos a fechar o acordo para se fortalecer diante da concorrência.
Outra razão era o fato do Bradesco estar na liderança do mercado de bancos privados, sem concorrentes à altura.
Na época, o novo banco somou 14,5 milhões de clientes, e hoje já são quase 60 milhões, segundo o próprio Itaú.
Boeing e Embraer
A fusão das companhias de aviação Boeing e Embraer foi aprovada pelo governo brasileiro em 10 de janeiro de 2019, dando origem à nova empresa, chamada de Boeing Brasil – Commercial.
Nessa união, a Boeing levou 80% do capital e a Embraer 20%, mediante um pagamento de US$ 4,2 bilhões da fabricante americana à companhia brasileira.
O motivo da operação foi a complementaridade das duas empresas, uma vez que a Boeing queria expandir seus negócios para voos curtos e médios (especialidade da Embraer).
Além disso, a fusão também elimina o risco de que a americana entre sozinha no mercado e acirre ainda mais a concorrência.
Kroton e Estácio
A união das empresas educacionais Kroton e Estácio é um exemplo de fusão mal-sucedida, pois o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) reprovou a operação.
A transação foi avaliada em R$ 5,5 bilhões e criaria uma gigante do ensino superior no Brasil, mas foi barrada no dia 28 de junho de 2017 pelo órgão antitruste, que regula a concorrência no país.
Basicamente, o conselho entendeu que essa fusão poderia gerar efeitos anticompetitivos, ou seja, formar um monopólio perigoso para a sobrevivência dos outros negócios.
Conclusão
Chegando até aqui, você já pode avaliar propostas de fusão com maior propriedade.
Como vimos, o processo não é dos mais fáceis, e os benefícios têm que compensar todo o esforço necessário.
Dependendo do tamanho das empresas, a transição pode durar meses e até anos, até que a nova companhia passe por todas as autoridades reguladoras e possa estabilizar suas operações.
Então, se você pensa em passar por um processo de fusão ou aquisição, já sabe que terá que enfrentar a burocracia para expandir o seu negócio.
Se a proposta for boa e o cenário estiver favorável, vá em frente e some forças para conquistar o mercado – e não se esqueça das minhas dicas para ser bem-sucedido.
Foi útil para você saber mais sobre a fusão de empresas?
Vamos conversar melhor: comente qual dos tipos de fusão seria mais interessante para o seu negócio.
Aguardo sua resposta.
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